
Os primeiros capítulos do livro de Génesis apresentam-nos vários pecados que foram cometidos pelos nossos primeiros antepassados.
O capítulo 4 de Génesis conta-nos a história do primeiro homicídio. Após Deus não se ter agradado da oferta de Caim da mesma maneira como se agradara da oferta de Abel, Caim irado começa a cogitar em matar o seu irmão.
Sabendo da sua intenção, Deus aborda Caim:
E o Senhor disse a Caim: Por que te iraste? E por que descaiu o teu semblante?
Se bem fizeres, não é certo que serás aceito? E se não fizeres bem, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.
Génesis 4:6-7
Mesmo tendo recebido o aviso da parte de Deus, Caim decide levar a sua intenção avante e mata o seu irmão. Então, Deus fala novamente com Caim:
E disse o Senhor a Caim: Onde está Abel, teu irmão? E ele disse: Não sei; sou eu guardador do meu irmão?
Génesis 4:9
Na sua resposta, Caim começa por negar. Mas a sua frase seguinte, deixa-nos perceber a sua revolta contra Deus. Porque razão estava o Criador a fazer-lhe aquela pergunta? Ele até já tinha demonstrado conhecer a sua intenção antes mesmo daquele desfecho.
Para Caim, toda esta situação começou com a resposta que Deus deu à sua oferta. De seguida, com a Sua abordagem, Deus demonstrou saber da intenção pecaminosa dele. Contudo, mesmo sabendo, Deus nada fez para impedir aquele desfecho e proteger Abel.
Então, percebemos que a pergunta de Caim “sou eu o guardador do meu irmão?” era na verdade uma pergunta de retórica. Na mente de Caim, o guardador de Abel era o Criador.
Ainda que não tivesse sido Deus a matar Abel, para Caim Deus também tinha responsabilidade. Ele tinha provocado todo aquele sentimento e não fez nada para o impedir. Se realmente Deus não queria que aquilo acontecesse, Ele não devia ter permitido. Para Caim, era como se Deus tivesse de alguma forma planeado aquele ato.
Quem designou?
Através dos relatos dos primeiros pecados podemos ver que uma das primeiras reações humanas foi a de tentar atribuir a Deus alguma da responsabilidade pelo que aconteceu. É como se Deus não apenas soubesse que pecados estão prestes a ser cometidos mas também fizessem parte do seu plano e dos seus desígnios.
Por estranho que nos possa parecer à primeira vista, a verdade é que o raciocínio de Caim continua a existir até aos dias de hoje. Na verdade, até é tranquilizante pensar que, ao mesmo tempo que somos totalmente responsáveis pelo nosso pecado, existe um plano ou desígnio divino qualquer no qual o nosso pecado tem que ser cometido. Afinal nada escapa ao nosso soberano Criador!
Nesta visão, o Criador nunca faria os seus planos com base apenas no Seu pré-conhecimento. Antes, tudo o que acontece terá que estar já pré-determinado no seu plano, antes da fundação do mundo.
Mas, exatamente porque não escapa nada ao nosso soberano Criador, assim como Ele conhecia os pensamentos de Caím, Ele também sabia que o seu raciocínio prevaleceria pelos séculos. Por isso, Ele fez questão de levar Moisés a escrever claramente, logo neste início do primeiro livro, que:
…, o pecado jaz à porta, e sobre ti será o seu desejo, mas sobre ele deves dominar.
Génesis 4:6-7
Deus conhece tudo antecipadamente e poderia facilmente impedir-nos, mas escolheu dar-nos a nós a responsabilidade dos nossos atos.
O pecado na minha vida não é o desenrolar do plano divino, é sim um desvio do mesmo!